Faustino, que recebeu o transplante, abraça o
irmão menor Benjamín, seu doador
(Foto: Cortesia da família Cascallares/BBC)
Um menino de três anos doou células de sua medula óssea ao irmão de
cinco anos e salvou sua vida, de acordo com seus pais e com médicos
argentinos.
Com ajuda dos especialistas, os pais das crianças lhes explicaram como
seria a intervenção médica e que um irmão ajudaria o outro a voltar para
casa, após dias de hospital.
'Eu disse a eles toda a verdade desde o início. A Benjamín, de três
anos, eu disse que ele ajudaria o irmão, Faustino, de cinco anos, a sair
do hospital e a voltar pra casa para brincar com ele', disse Mariana
Torriani, mãe das crianças, à BBC Brasil.
Ela contou que 'em momento algum' Benjamín chorou ou demonstrou medo de
ser internado. 'Eu expliquei a Benjamin que seria como doar sangue ao
irmão e ele entendeu a situação', afirmou.
As crianças foram atendidas no hospital público e pediátrico Sor María
Ludovica da cidade de La Plata, na província de Buenos Aires.
'Eu quis revelar o que aconteceu com meus únicos filhos para que as
pessoas não tenham medo de ser doadoras. Não tenham medo de salvar
vidas', disse Mariana, de 32 anos.
Mariana, o marido, Martín, e os filhos moram na cidade de Laprida, em uma área de fazendas, na província de Buenos Aires.
'Depositei toda a confiança nos médicos. Eles me explicaram que hoje os
riscos são mínimos para o doador e que o tratamento também avançou
muito para os que necessitam do transplante. Mas Faustino ainda precisa
de cuidados, que também estavam previstos antes da operação', disse.
Além dos especialistas, as crianças contaram com apoio de psicólogos do hospital.
Um ano
Tudo começou quando, há um ano, em 27 de outubro, os médicos
diagnosticaram que Faustino sofria de leucemia e que o melhor caminho
para seu caso seria o transplante de medula óssea.
'Foi muito forte saber o diagnóstico. A única opção era lutar, enfrentar o problema', disse Mariana.
Ele realizou tratamento de quimioterapia durante alguns meses e os
médicos sugeriram a alternativa do transplante de medula óssea, como
contou a chefe do serviço de hematologia do hospital, Alcira Fynn.
'Os irmãos são normalmente os mais compatíveis para ajudar um ao outro.
Filhos dos mesmos pais, eles possuem a mesma, digamos, matriz. E foi o
que aconteceu', disse Fynn.
Segundo ela, foi retirado 'sangue do osso' do doador que, no caso de Benjamin, passou quarenta e oito horas internado.
'Os tecidos (das células) são renováveis. A doação hoje é mais simples e
frequente do que se imagina. Existem riscos? Sim, mas para o doador
ligados à anestesia apenas', disse a especialista.
Faustino foi operado em junho e voltou para casa dez dias após a
cirurgia, de acordo com a médica.
'No ano que vem ele já poderá voltar para a escola', disse Fynn. Ela
afirmou que dos 210 casos de transplantes realizados no hospital, cem
foram com a doação de um
familiar direto da pessoa em tratamento.
Mariana contou que Benjamin retornou às aulas no jardim de infância poucos dias após ter sido internado para ajudar o irmão.
'Agora é ter cuidado e paciência para a conclusão do tratamento e para que Faustino volte à vida normal', disse ela.
Como transplantado, o menino não pode ser exposto a bactérias para que não sofra nenhuma infecção.
'Nós achamos que o pior já passou e que de agora em diante tudo será
cada vez melhor. Os dois são muito unidos e depois da experiência
ficarão ainda mais unidos', disse Mariana à imprensa argentina.
De acordo com dados oficiais, somente na província de Buenos Aires
contam-se 15.100 doadores no registro nacional de doadores de
células-mãe.