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terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

'Não mudamos nada', irmãos cegos falam de rotina e independência Zímer perdeu a visão aos 8 anos e mora com uma irmã também cega. Irmãos moram no Bairro Jardim dos Migrantes, em Ji-Paraná, RO.

Hudson Pimentel Do G1 RO

Dona Delcina, cega, prepara o café da família (Foto: Hudson Pimentel/G1)Dona Delcina, cega, prepara o café da família
(Foto: Hudson Pimentel/G1)
O aposentado Zímer Miranda Brito, de 55 anos, cego desde os 8, está vendendo rifas de uma bicicleta para pagar um exame de próstata. "Não é porque eu não enxergo que eu vou fechar os olhos para o problema", diz, sorrindo, Zímer, que mora no Bairro Jardim dos Migrantes, em Ji-Paraná (RO). O aposentado quer conseguir dinheiro para ir a Belo Horizonte (MG), onde mora um irmão, fazer um novo exame de próstata.
Segundo Zímer, que não gosta de entrar em detalhes sobre o assunto, em Belo Horizonte poderá ser acompanhado pelo irmão, que "tem mais tempo".
Zímer mora com duas irmãs em uma casa simples de madeira.  Delcina Maria Pereira, de 60 anos, também é cega. Perdeu a visão há cerca de 10 anos. Apesar da deficiência, Delcina prepara o café da pequena família.
A dona de casa não deixa passar um detalhe sequer, sabe onde está o pó de café, a chaleira e também o coador. “Aqui é onde eu pego as coisas para fazer o café, a gente não muda nada do lugar então fica fácil saber onde cada coisa está”, comenta dona Delcina, moradora do Bairro Jardim dos Migrantes, em Ji-Paraná (RO) .
Segundo Alzira Maria Pereira, 65 anos, irmã mais velha de Delcina e Zímer, a deficiência dos irmãos é resultado de duas gerações incestuosas. “Meu avô se casou com a sobrinha e meu pai se casou com uma prima. Eu devia ter uns 18 anos quando levei o Zímer ao médico, ele estava com oito aninhos ainda. Lá descobri que ele estava perdendo a visão e que essa perda seria gradativa conforme passassem os anos, a partir daquele momento eu me tornei a segunda mãe dele”, relembra a irmã emocionada.
Zilmer ficou cego aos 8 anos (Foto: Hudson Pimentel/G1)Zímer ficou cego aos 8 anos
(Foto: Hudson Pimentel/G1)
A família vive em uma casa simples, de madeira e chão batido. A rua onde moram está castigada pela chuva, que deixa buracos cada vez maiores. “Teve um dia que eu saí para rua e caí em um buraco, tentei me levantar rapidinho e já caí em outro, a sorte que meu amigo que mora aqui perto me ajudou, senão eu estaria lá até hoje subindo e descendo (risos)”, conta Zímer.
“Ele é corajoso”, interrompe Delcina na cozinha.  “Já eu não tenho coragem de sair sozinha não, fico mais em casa mesmo ouvindo televisão e limpando a casa”.
A alegria de quem não enxerga contrasta com a tristeza de quem vê a situação da casa da família, que está com problemas de infiltração e goteiras. “Toda vez que chove é um Deus nos acuda, porque entra a água pelo telhado e eu tenho que afastar todos os móveis da parede”, reclama Alzira.
Alzira é a única entre os irmãos que não perdeu a visão. “Éramos cinco irmãos, uma faleceu surda e perdendo a visão, além do Zímer e da Delcina, tenho um irmão em Minas que também é cego”.
Alzira, no centro, é a única irmã que não ficou cega (Foto: Hudson Pimentel/G1)Alzira, no centro, é a única irmã que não ficou cega (Foto: Hudson Pimentel/G1)

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